@giovanaeribeiro
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CANNABIS E SAÚDE
Cannabis medicinal para o tratamento de insônia
On 16 Jul, 2024
Para muita gente, a noite se torna uma tortura. A insônia consiste em uma das queixas mais comuns na clínica, acometendo principalmente mulheres e com a prevalência de 10 a 40% na população geral. A insônia é a doença do sono mais comum, sendo caracterizada principalmente pela dificuldade de iniciar ou manter o sono. Como consequência da doença, o(a) paciente apresenta sonolência e cansaço durante o dia, falta de atenção e concentração e prejuízos na memória. Existe também uma relação entre insônia e aumento do risco de acidentes automobilísticos.
A insônia é tão comum quanto asma e diabetes, porém, raramente é diagnosticada e tratada adequadamente. Somente 5% das pessoas com distúrbio do sono procuram ajuda em serviços de saúde e 69% nunca mencionaram sua dificuldade para dormir durante consultas médicas. Existem fortes evidências que apoiam a associação entre insônia e o desenvolvimento da depressão. O fenótipo de insônia com sono curto (tempo de sono menor que o fisiologicamente normal para a faixa etária), é associado ao maior risco de hipertensão, diabetes, deficiências de desempenho comportamental e maior risco de mortalidade.
Os primeiros tratamentos farmacológicos para insônia foram realizados com os benzodiazepínicos (diazepam, alprazolam, clonazepam entre outros), que atuam estimulando o ácido gama-aminobutírico (GABA), principal neurotransmissor inibitório do cérebro. Essas são substâncias hipnóticas e por isso levam à indução do sono. No entanto, tanto nos trabalhos científicos quanto na prática clínica, percebe-se aumento no risco de dependência química e emocional dessas substâncias. Novas substâncias - as chamadas “drogas Z, como Zolpidem e Zolpiclone, têm demonstrado menos efeitos colaterais, porém ainda induzem muita dependência.
Insônia Crônica
Conforme a 3ª edição da Classificação Internacional de Distúrbios do Sono (ICSD), o diagnóstico para o Transtorno de Insônia Crônica passa a ser definido a partir dos seguintes sintomas:
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Dificuldade em iniciar o sono;
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Dificuldade em manter o sono;
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Despertar antes do desejado;
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Resistência em ir para a cama no horário apropriado;
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Dificuldade para dormir sem outra intervenção dos pais/cuidadores, uso de medicamentos ou bebida alcoólica.
Isso tudo vem acompanhado de:
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Fadiga;
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Déficit de atenção, concentração ou memória;
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Alterações cognitivas;
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Relações familiares e sociais prejudicadas;
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Prejuízo no trabalho ou estudo, menor produtividade;
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Alteração do humor, maior irritabilidade;
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Sonolência diurna;
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Alterações comportamentais (ex: hiperatividade, impulsividade, agressividade);
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Disfunção sexual;
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Perda de motivação e energia;
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Propensão para acidentes e erros;
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Preocupação ou insatisfação com o sono;
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Dores de cabeça;
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Sintomas ansiosos e/ou depressivos;
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Sintomas gastrointestinais;
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Outros.
Insônia: doença ou sintoma?
Insônia primária é quando a insônia é a própria doença, quando você tem insônia e nada mais. Já insônia secundária, que é o tipo mais comum, é quando a insônia é um sintoma decorrente de outra condição, como por exemplo abuso de substâncias, transtornos mentais ou físicos. Ou seja, na maioria dos casos, a insônia é um sintoma de alguma outra doença de base.
Na maioria dos casos de insônia secundária, essa está associada principalmente a quadros de transtornos depressivos e ansiosos. Posteriormente, associa-se com transtorno afetivo bipolar (TAB), TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), problemas no ciclo circadiano e outros. Por isso, se você sofre com dificuldade para dormir, é indicado procurar um especialista em saúde mental para que o diagnóstico e o tratamento sejam feitos de maneira adequada.
Outro grande causador da insônia é o sedentarismo - não haver gasto energético adequado durante o dia dificulta a indução e a qualidade do sono durante a noite. Na hora em que você se deita para dormir, se ainda existir energia sobrando no seu corpo, isso irá dificultar o relaxamento do seu cérebro. O ideal é que essa energia seja gasta durante o dia através da atividade física. Exercite-se regularmente, mas não perto da hora de dormir. A atividade física regular é essencial para o tratamento do distúrbio do sono, no entanto, a prática de exercícios físicos vigorosos à noite pode atrapalhar o sono para algumas pessoas. Além disso, condições como sobrepeso e obesidade também são fatores de risco apontados como prejudiciais para o sono.

Complicações para saúde
O sono é fundamental para a manutenção da vida e da saúde. Dentre várias funções que tem no organismo, destaca-se a sua participação no processo de de homeostasia do corpo humano que garante o descanso e a restauração, atuando na reposição de neurotransmissores e diminuição de toxinas tóxicas que são acumuladas no cérebro durante o dia.
Além disso, o sono participa ativamente dos processos de:
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Consolidação de memórias, com consequente influência no aprendizado;
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Regulação cardiometabólica (redução na temperatura e na pressão arterial, diminuição nas concentrações de colesterol e glicose no sangue entre outros);
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Ativação no sistema imunológico (o que permite maior proteção contra doenças infecciosas e agudização de doenças autoimunes);
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Regulação do humor e das emoções.
Juntamente com uma boa alimentação e a prática regular de exercícios físicos, o sono de qualidade é essencial para a manutenção da saúde física, mental e social. Durante a noite, o sono se apresenta em quatro estágios que duram aproximadamente 1 hora e meia. Com passar da noite temos: primeiro e segundo estágios do sono, também conhecidos como sono leve (N2), e, posteriormente o sono de ondas lentas (N3) que é o que se relaciona mais proximamente com os processos de restauração citados anteriormente. O último estágio é o sono REM (do inglês rapid eye moviment), caracterizado pelos movimentos oculares rápidos, atonia muscular e sonhos intensos. Com o passar do tempo da noite, a duração do sono profundo vai diminuindo e o sono REM vai aumentando, assim, na primeira metade da noite há um predomínio do sono leve e do profundo, e na segunda metade, há principalmente sono leve e sono REM.
É de suma importância entendermos que, desde o desenvolvimento da luz elétrica, da TV, computadores, celulares e etc, estamos indo dormir cada vez mais tarde, porém acordamos cada vez mais cedo para estudar ou trabalhar. Dessa forma, podemos dizer que a sociedade contemporânea é privada de sono, principalmente de sono REM, pois esse acontece nas últimas horas de sono. A privação de sono REM pode estar relacionada a um aumento exponencial nos casos de depressão, pois o sono REM está intimamente relacionado com a regulação emocional e do humor.
Cannabis Medicinal para o tratamento de insônia
Quando se trata do potencial terapêutico da Cannabis, a subespécie Indica tem efeito mais sedativo, e pode ser útil para aumentar o relaxamento, diminuir o estresse e a dor, sendo por isso utilizada no tratamento da insônia. Os pacientes reportam efeitos positivos com o consumo moderado, especialmente do óleo, 1 hora antes de irem se deitar. Foi também observado que o tetra-hidrocanabidiol (THC) não difere dos hipnóticos convencionais na redução do sono REM, ou seja, a Cannabis uma boa opção de uso no lugar dos benzodiazepínicos, zolpidem ou outros indutores do sono que possuem maior potencial para causar dependência.
Deve-se encontrar a dose certa para cada paciente, na qual o efeito terapêutico é maximizado e os efeitos adversos são minimizados. As doses dependem do tipo de produto utilizado, da variação individual do paciente, do desenvolvimento de tolerância, da interação com outras drogas e da exposição anterior à Cannabis. O CBD pode tornar sonolento um paciente com privação de sono, mas torna-se promotor da vigília assim que o paciente recupera-se do repouso. No entanto, deve-se levar em consideração que uma das principais causas que podem levar ao quadro de insônia é a presença de ansiedade. Nesses casos, tanto o THC como o CBD são eficazes para alívio dos sintomas.
Sugere-se o uso do CBD para quem apresenta sintomas de ansiedade, com dificuldade para iniciar o sono, inclusive o CBD pode potencializar o efeito hipnótico do THC, caso prescrito à noite. No entanto, não se deve descartar a prescrição do CBD à noite como opção para melhorar o sono. O tratamento deve ser personalizado e a escolha da dosagem e do esquema terapêutico estará diretamente influenciada pelo diagnóstico de base. Nesse caso, mesmo em que a situação de transtorno do sono se apresente como queixa principal, devemos estar atentos a outras informações importantes que incluem o ritmo circadiano e hábitos individuais de cada paciente. É preciso ajustar o tratamento, juntamente com higiene do sono e mudança de estilo de vida adequadas para que, dessa forma, seja possível alcançar o sucesso no tratamento.
Por Giovana E. Ribeiro