@giovanaeribeiro
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CANNABIS E SAÚDE
Cannabis ou zolpidem?
06 Out, 2025
O Zolpidem (hemitartarato de zolpidem) é uma substância que pertence ao grupo de hipnóticos-sedativos, ou seja, ele é um remédio usado para dormir. Sua principal função é ajudar pessoas que têm insônia a induzir o sono, a adormecer mais rápido e também ele ajuda a manter o sono por mais tempo. Essa substância age no cérebro modulando principalmente o sistema do ácido gama-aminobutírico, mais conhecido como sistema gabaérgico. O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro, logo, a sua função é reduzir a atividade neuronal, o que causa um efeito calmante e que ajuda a induzir o sono.
O zolpidem é um dos remédios mais prescritos para insônia porque, em geral, tem um efeito rápido e pouca influência na arquitetura do sono - ou seja, não estraga as fases mais profundas do sono, como acontece com outros sedativos mais antigos por exemplo os benzodiazepínicos. Por isso as pessoas quando o usam para dormir, sentem uma sensação de acordar se sentindo bem. Por ter uma ação pontual, a ideia do uso da medicação, quando bem indicada, é que a pessoa use por um curto período (no máximo de 4 semanas) para resolver um problema de sono temporário.

Só que aí que tá: o risco de dependência por essa substância é real e significativo, especialmente quando o uso é prolongado ou feito sem orientação médica. O que a maioria das pessoas não sabe é que o Zolpidem age em receptores cerebrais parecidos com os do álcool e de outras drogas sedativas no cérebro - e isso significa que ele pode gerar tolerância (você passa a precisar de doses maiores para ter um mesmo efeito), dependência química e dependência emocional importantes.
E quando falamos de efeitos colaterais dessa medicação, um dos principais é a amnésia anterógrada, que é quando a pessoa após tomar a medicação faz coisas enquanto está sob o efeito do sedativo (por exemplo comer, dirigir, conversar, beber, comprar…), e não se lembra de nada no dia seguinte, parece a sensação de uma noite de “bebedeira" que termina com um black out mesmo… E, em alguns casos, as pessoas ao usar relatam terem tido “comportamentos estranhos” onde chegam a ter feito atividades complexas, como dirigir ou cozinhar, enquanto ainda estavam meio-adormecidas e sem se lembrar no dia seguinte.
Mas, além de tudo isso, o principal risco da medicação continua sendo realmente a dependência. Depois do uso por vários dias do zolpidem, a pessoa passa a não conseguir mais dormir sem a medicação. E o pior - se o(a) paciente parar de usar abruptamente, pode acontecer a insônia de rebote, que é quando o distúrbio do sono piora muito, a dificuldade de induzir o sono passa a ser extrema e muito pior do que era antes. Aí o paciente pode passar vários dias dormindo poucas horas ou até mesmo não dormindo ao tentar parar a medicação, o que também leva a sintomas de ansiedade, de irritabilidade e existem casos de até convulsões. Esses sintomas podem ocorrer pela falta de sono mas também devido a síndrome de abstinência que ocorre no corpo ao cessar o uso da substância de forma repentina.
O uso prolongado de zolpidem também pode afetar a memória e a capacidade de concentração, mesmo quando a pessoa não está sob o efeito da medicação. Essa é uma preocupação muito pertinente e há, de fato, evidências científicas que sustentam a ideia de que o uso prolongado do zolpidem pode estar associado a déficits cognitivos persistentes, incluindo falta de memória e a concentração, mesmo após o fim da ação sedativa do medicamento.
Por tudo isso, o Zolpidem é um medicamento que exige muita cautela e um acompanhamento médico rigoroso. A automedicação é extremamente perigosa e pode trazer riscos sérios à saúde…. A recomendação geral da comunidade médica e científica é de que o zolpidem deve ser limitado ao tratamento a curto prazo da insônia. O uso prolongado, especialmente em altas doses, está associado a um risco significativo de dependência e a potenciais efeitos adversos cognitivos de longo prazo, incluindo problemas de memória e concentração, além de uma possível associação com o aumento do risco de demência em idosos.
E quais são as outras opções para o tratamento para insônia?
Como médica, vejo a cannabis como uma potente opção de tratamento para a insônia episódica. Isso porque o CBD, age no nosso sistema nervoso de uma forma bem interessante para ajudar a induzir o sono - ao invés de ser um remédio para dormir, ou seja, um indutor de sono da classe dos hipnóticos, ele trabalha de forma mais natural, que equilibra nosso corpo e mente, nos tranquilizando e facilitando a indução do sono. A principal forma de ação do CBD para o sono é através da sua interação com o sistema endocanabinoide (SEC). Esse sistema é uma rede complexa de receptores espalhados pelo corpo que ajuda a regular várias funções (incluindo humor, estresse, e claro, o sono). Assim, podemos entender que o CBD melhora a qualidade do sono e combate a insônia de várias maneiras:
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CBD reduz e modula a ansiedade e o estresse: a insônia é causada por uma mente agitada, preocupada e estressada, que tem dificuldade de parar na hora de dormir. O CBD tem propriedades ansiolíticas, ou seja, ele acalma o sistema nervoso, e assim, ao diminuir a ansiedade e o estresse nesse momento, ele facilita o relaxamento, que é essencial para conseguir adormecer.
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Aliviando a dor: se você tem dor crônica, isso pode atrapalhar o sono. O CBD tem propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, o que pode ajudar a dormir melhor.
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Regulando o ciclo do sono: pesquisas sugerem que o CBD pode ajudar a estabilizar o ciclo de sono-vigília, também conhecido como ritmo circadiano. Isso significa que ele pode ajudar seu corpo a entender quando é hora de estar acordado e quando é hora de dormir, o que leva a um sono mais profundo e reparador.
A principal diferença entre o CBD e medicamentos como o Zolpidem é a forma como agem e os efeitos que causam. O zolpidem é um sedativo hipnótico. Isso significa que ele age diretamente no cérebro para diminuir a atividade neuronal, forçando o corpo a desligar e dormir – ele age rápido e é eficaz, mas pode causar amnésia, perda de memória e de concentração no dia seguinte e, com o tempo, o corpo desenvolve tolerância a essa substância, e aí necessita de doses maiores para se obter um mesmo efeito.
Já o canabidiol, como vimos, ele não "apaga", não desliga abruptamente o seu cérebro. Em vez disso, o CBD atua indiretamente, acalmando o sistema nervoso e tratando as causas da insônia, como por exemplo, ansiedade, depressão ou dor… E a principal diferença: o CBD tem poucos efeitos colaterais e não causa dependência! Ele não age imediatamente como o Zolpidem, então é importante usá-lo com consistência e de forma contínua para que o efeito seja construído.
Em suma, a diferença entre esses tratamentos está na sua forma de agir: enquanto o zolpidem funciona tipo um “interruptor” químico que força o cérebro a desligar, agindo de forma abrupta no sono, o CBD (Canabidiol) se comporta mais como um “regulador” que consegue criar um ambiente biológico ideal para que o sono ocorra de forma mais natural e restauradora, para que você consiga dormir naturalmente e ter um sono mais saudável. O CBD foca em tratar a raiz do problema, enquanto o Zolpidem trata o sintoma, que é a incapacidade de dormir. É crucial reconhecer que o sono é insubstituível para a manutenção da saúde física e mental. Portanto, se você lida com insônia crônica ou dependência de medicamentos indutores de sono, busque acompanhamento médico profissional. Não negligencie este momento essencial para a sua saúde e bem-estar.
Por Giovana E. Ribeiro