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@giovanaeribeiro

CANNABIS E SAÚDE

Uso recreativo versus uso medicinal de Cannabis Sativa

On 28 Apr, 2025

Uso recreativo

    A maconha é a droga ilegal mais utilizada em todo o mundo. O Relatório Mundial Sobre Drogas de 2018 mostrou que ela foi a droga mais consumida em 2016, com 192 milhões de pessoas utilizando-a ao menos uma vez no período de um ano. Mas, é importante lembrar que, mesmo que pertençam a uma mesma espécie (Cannabis Sativa), a maconha usada de forma recreativa e a usada para fins medicinais são variedades diferentes da planta, e por isso, possuem efeitos diferentes no organismo. 

    É importante deixar claro que o uso abusivo de Cannabis em menores de 18 anos está associado com comprometimento do pensamento, memória e aprendizado. Um estudo conduzido pela Universidade de Duke, na Nova Zelândia, mostrou uma perda média de 8 pontos no QI entre as pessoas que fumaram muita Cannabis durante a adolescência. O uso precoce da maconha em jovens pode levar a uma síndrome chamada de síndrome motivacional - mesmo que ainda não comprovada cientificamente, ela parece ser caracterizada por passividade, apatia, conformismo, isolamento, introversão e, muitas vezes, confundida com depressão. 

     Pessoas que estão sempre intoxicadas, independentemente do tipo de droga, não são capazes de ser membros produtivos da sociedade. Porém, não existem evidências específicas sobre o consumo de Cannabis como causador de falta de ambição, motivação ou de produtividade. Estudos em humanos em que os participantes receberam altas doses de Cannabis por vários dias ou várias semanas não demonstraram falta de motivação ou produtividade no trabalho. Inclusive, os usuários adultos de Cannabis recreativa tendem a ganhar maiores salários do que os não usuários. 

     Não foram observados declínios do QI entre aqueles que iniciaram o consumo quando adultos. Entretanto, o uso a longo prazo e em grande quantidade de Cannabis recreativa, principalmente por adolescentes, pode levar ao vício e alterar o desenvolvimento do cérebro. Podem ocorrer comprometimento cognitivo, baixo rendimento escolar e menor satisfação com a vida.

   Portadores de esquizofrenia, paranoia, psicose, alucinações e alterações cognitivas e pensamento desorganizado podem ter piora dos sintomas de desorganização com o uso de Cannabis. É possível que ocorram alterações temporárias no pensamento, percepção e no processo de informação sob o efeito da planta, e por isso, nos portadores de psicose o uso principalmente de forma recreativa de Cannabis, pode desencadear surtos. Mas, isso não quer dizer que a Cannabis por si só cause a psicose. Um estudo realizado pela Universidade de Harvard avaliou usuários da planta com e sem psicose e nele concluiu-se que a psicose vinha principalmente da herança genética, mas que a Cannabis poderia, sim, precipitá-la em pacientes com história prévia da doença.

    O processo cognitivo mais afetado durante o uso recreativo de Cannabis é a memória de curto prazo. Indivíduos sob influência da Cannabis não apresentaram dificuldade para recordar fatos que ocorreram previamente ao uso, mas, tiveram diminuição temporária da capacidade de aprender e lembrar de novas informações enquanto estavam sob o efeito. Não existem evidências convincentes de que o uso da Cannabis por um longo prazo comprometa permanentemente a memória e as funções cognitivas em adultos.

Versus uso medicinal

     Quando falamos sobre o uso medicinal de cannabis, o uso de THC em altas concentrações por indivíduos com tendência à depressão tem efeito antidepressivo. Já o CBD, quando utilizado em concentrações elevadas, tem efeito depressivo ou calmante. Eles possuem, portanto, efeitos opostos - as consequências do uso da Cannabis podem variar no organismo de acordo com as características individuais de cada um, com seu estado de espírito durante o uso, o ambiente em que está e as características da droga. Quando se fala em uso médico, está implícito que um(a) profissional habilitado(a) em medicina tem que observar a indicação ou não do uso do medicamento à base de Cannabis, avaliar as doenças pré-existentes, conhecer as interações com outros medicamentos que já esteja em uso e, só então, escolher o produto adequado para a patologia a ser tratada e para o perfil do paciente. 

    Atualmente, já foram identificados mais de 120 canabinoides na planta. A Cannabis com finalidade medicinal, possui na maioria das vezes, concentrações maiores de CBD, mas pode também conter THC, dependendo da indicação. Porém,  as doses de THC em tratamentos medicinais costumam ser muito menores do que as presentes na maconha fumada de forma recreativa, apresentando os efeitos medicinais da planta sem as alucinações indesejáveis que podem ocorrer durante o uso recreativo.

    A planta com uso para fins recreativos apresenta altas doses de THC, que é o componente psicotrópico da Cannabis, ou seja, é o responsável pelas alucinações e “viagens” durante o uso. As cepas utilizadas de forma recreativa atualmente podem chegar a ter 80% do seu teor de THC e a combustão, durante o fumo, aumenta ainda mais essa concentração. Mesmo que se utilize plantas de boa procedência, sem a legalização da venda, é impossível saber quais canabinoides e teor de cada um, ou seja, nunca se sabe exatamente o que está sendo consumido. 

    Quando se trata do uso medicinal da Cannabis, uma metanálise importante (Wang, 2008), que incluiu estudos clínicos durante um período de 40 anos, teve como objetivo identificar e quantificar os efeitos adversos dos tratamentos à base de Cannabis. Foram reportados 4.779 efeitos adversos, sendo que 96,6% (4.615) destes casos não foram considerados sérios pelos pesquisadores. O evento adverso mais comum nos pacientes em uso de Cannabis medicinal foi a tontura, com uma ocorrência de 15,5% (714 eventos). Nenhum caso de morte foi relatado e não foram observadas diferenças significativas entre os pacientes recebendo a droga ativa e o placebo. 

    Assim, conclui-se que  uma planta que pode ajudar a melhorar a qualidade de vida em inúmeras famílias não pode ser alvo de discriminação pela falta de esclarecimento. A maconha deve ser usada principalmente para fins medicinais, e da mesma forma, a Cannabis de uso médico não servirá para fins recreativos. 

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Por Giovana E. Ribeiro

© 2024 por Isabela Lopes.

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