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SETEMBRO AMARELO

Precisamos falar sobre suicídio

On 10 Set, 2024

     Por ser um tema muito difícil de ser encarado, a sociedade ainda sofre de maneira intensa com o impacto das perdas por suicídio. Então porque precisamos falar sobre o suicídio? Ao reduzirmos o estigma que envolve o ato, contribuímos para que as pessoas se sintam mais à vontade para dividir o seu sofrimento, e assim, podemos ajuda-las com maior frequência.

     Suicídio é um gesto de autodestruição, realização do desejo de morrer ou de dar fim a própria vida. É uma escolha ou uma ação que tem graves implicações sociais. Pessoas de todas as idades e classes sociais cometem suicídio e a cada 40 segundos, uma pessoa se mata no mundo, totalizando quase 1 milhão de pessoas quase todos os anos. No Brasil, 32 pessoas por dia tiram a própria vida.​ Estima-se que 10 a 20 milhões de pessoas no mundo tentam suicídio por ano. De cada um desses, de seis a dez outras pessoas são diretamente impactadas pelo ato, sofrendo sérias consequências difíceis de serem reparadas.

     O suicídio é um grave problema de saúde e continua sendo uma das principais causas de morte em todo mundo e por isso, todos nós devemos atuar ativamente na conscientização, na prevenção do suicídio, e principalmente, evitar tabus. Falar sobre o tema, ajuda para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de cri busquem ajuda. Colocando o assunto em pauta, somos capazes de informar para que as pessoas próximas das vítimas saibam identificar quando alguém está pensando em se matar, e assim, possam ajudar antes que seja tarde demais.

     Quando se trata de saúde, a primeira medida preventiva é sempre a educação: é preciso deixar de ter medo de falar sobre esse assunto, superar os tabus e compartilhar informações relacionadas a ele. Como já aconteceu no passado (por exemplo com doenças sexualmente transmissíveis e o câncer), a prevenção tornou-se realmente bem-sucedida quando as pessoas começaram a se informar melhor sobre esses problemas. Ou seja, saber quais as principais causas e formas de ajudar, pode ser o primeiro passo para reduzir as taxas de suicídio.

     Quanto menor for o preconceito em acolher as pessoas em risco, maior será ao sucesso no combate ao suicídio. Vale lembrar que a presença da doença mental previa é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento de comportamento suicida. Estima-se que 98,6% das pessoas que cometeram suicídio possuíam algum transtorno mental antes, entre eles, depressão, transtorno afetivo-bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de drogas, e outros. Tentativa prévia de suicídio é o principal fator de risco para uma nova tentativa - os indivíduos que já tentaram o suicídio têm de 5 a 6 vezes mais chances de tentar novamente se não forem tratados de forma adequada e regular por profissionais de saúde. Por isso, é tão importante cuidar da saúde mental regularmente. Saúde mental é papo sério. O tratamento dessas condições é o pilar principal para previnir a ideação e o ato de suicídio. Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo(a), pode ser o primeiro e mais importante passo. O mais importante é evitar o preconceito e PROCURAR AJUDA!

   A ideação suicida é o pensamento que leva ao ato em si. É nesse momento que as medidas preventivas e o apoio emocional são de extrema importância. Porém infelizmente, na maioria das vezes, a ideação não é compartilhada com as pessoas próximas ou com os profissionais de saúde.

     Por trás do comportamento suicida, há um conjunto de fatores que culminam na manifestação contra si mesmo. Existe uma distorção da percepção da realidade com avaliação negativa de si mesmo, do mundo e do futuro. Há um medo irracional e preocupação excessiva. O passado e o presente reforçam seu sofrimento e o futuro aparenta ser sombrio, fazendo com que a pessoa se sinta sem perspectiva e com ausência de planos. Algumas pessoas planejam durante dias ou meses a ação de suicidar-se, mas a maioria não. A maioria das pessoas que cometem o suicídio são movidos por forte impulso, sem muito planejamento prévio. A impulsividade muitas vezes é acentuada na presença de abuso de substâncias e de bebida alcoólica.

     Todas as pessoas em algum momento da vida irão experimentar sentimento de profundo desespero e desesperança. Todos nós podemos sentir vontade de “desaparecer” em algum momento difícil. Todos teremos sentimos tristeza profunda na vida. Entretanto, em indivíduos saudáveis, aos poucos, esses sentimentos vão melhorando e as ideias vão se organizando, e com o tempo, o cotidiano volta a ter significado e a confiança em si mesmo(a) é restabelecida. Já em pessoas com tendência ao suicídio essa sensação pode durar por muito tempo, causando um grande sofrimento e dificuldade de encontrar vontade para continuar vivendo. Pessoas com pensamento suicida não são capazes de encontrar sozinhas uma alternativa para o seu sofrimento e sua tristeza a não ser a morte. Elas pensam em acabar com a própria vida como se fosse a única solução possível para o fim de toda a angústia. Quando uma pessoa decide terminar com a sua vida, os seus pensamentos, sentimentos e ações são regidos por uma grande rigidez, o que a torna incapaz de perceber sozinho(a) outras maneiras de enfrentar ou sair do problema. O mundo passa a ser visto pela lente da distorção que o sofrimento mental impõe. O comportamento fica inflexível quanto à sua decisão: a única saída possível para o indivíduo é a morte. E por isso, é tão difícil encontrar, sozinho ou sozinha, alguma outra alternativa.​ 

     Pessoas com tentativas de suicídio prévias relataram que sentiam-se esquecidas ou ignoradas, e tinham a sensação de estar só, uma solidão que era sentida como insuportável. Outras, tinham desejo de vingança e imposição. A maioria, sentia vontade de desaparecer, fugir ou de ir para um lugar ou situação melhor que a sua vida. Quase sempre, existia uma necessidade de alcançar a paz, descanso ou um final imediato aos tormentos. No momento em que se tem a ideação suicida, a mente alterna entre sentimentos e pensamentos conflituosos, dúvida - uma verdadeira indecisão sobre se matar ou não. Sentimentos de ambivalência sobre tirar a própria vida são os mais comuns. O desejo de viver e de morrer se confundem dentro da pessoa. Há urgência em sair da dor e do sofrimento mas também há o desejo de sobreviver a esta dor. Muitos relataram que não aspiravam realmente morrer, apenas queriam sair do sentimento de tristeza intensa, acabar com a dor, fugir dos problemas, encontrar descanso ou final mais rápido para o seu sofrimento. 

       Se nesse momento for dado apoio emocional para reforçar o desejo de viver, a intenção e o risco de suicídio diminuirão. Como já discutido antes, o ato suicida da maioria dos pacientes tem como gatilho inicial o impulso para cometer o ato. Essa impulsividade é transitório e tem duração apenas de alguns minutos ou horas. Acolher a pessoa durante a crise, com ajuda empática, pode interromper o impulso suicida e evitar o ato em si. 
​     O suicídio usualmente é motivado por eventos negativos e estressores da vida - eventos estressores significativos como separação conjugal, morte de uma pessoa próxima, falência, perda de emprego, dificuldades financeiras, estão mais associados ao surgimento de pensamentos suicidas. Conflitos familiares, incerteza quanto à orientação sexual, falta de apoio social, desamparo e impulsividade também são responsáveis por acarretar o quadro. Alguns estudos relatam que pessoas que vivem sozinhas, divorciados, viúvos e pessoas sem filhos também parecem ter maior risco. É de extrema importância observar se existe algum comportamento que sugira uma preparação para o suicídio: mensagens de despedida (bilhetes ou recados em mídias sociais), testamentos, doação de posses importantes e acúmulo de comprimidos são alguns exemplos. Comportamento de despedida pode ocorrer (como ligações incomuns a parentes ou amigos dizendo adeus, como se não fosse vê-los outra vez) e devem ser encarados como sinais de alarme. Pessoas com pensamentos suicidas costumam considerar a morte como um “meio de sair do sentimento de infelicidade”, ou de "acabar com a dor”, “encontrar um descanso” ou “um final mais rápido para os sofrimentos”, por isso, comentários com esse tipo de conteúdo devem servir como sinal de alerta.

         Faltas ou mal comportamento, baixa capacidade de concentração e pouca produtividade podem ser sinais de depressão e ideias suicidas. É importante lembrar que em crianças e adolescentes queda no desempenho escolar pode ser reflexo de um transtorno psiquiátrico não diagnosticado e os pais devem ficar atentos! É de extrema importância não existirem meios acessíveis para suicidar-se. Acesso a armas de fogo, locais elevados e medicações em grande quantidade aumentam a chance de que uma eventual tentativa de suicídio seja efetivada. O ideal é que o acesso a esses seja restrito e vigiado por pessoas que moram na mesma casa.

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     Eventos adversos na infância e na adolescência podem piorar o risco - ter sofrido maus tratos, abuso físico, sexual ou psicológico na infância, apresentar abuso ou dependência de substancias lícitas ou ilícitas e falta de apoio social estão associados a maior risco.Presença de outras doenças crônicas como neoplasias em fase terminal também são fatores de risco para tentativa, e por isso, acompanhamento de pacientes que apresentem condições médicas com essas características deve incluir uma atenção especial à sua saúde mental.
       Distúrbio do sono são sinais de alerta pois insônia ou excesso de sonolência podem ocorrer associados a ideação suicida. É importante ficarmos atentos quando há desinteresse intenso e a pessoa passa a deixar de fazer coisas que antes lhe eram prazeirosas. O indivíduo também tende a se isolar, tanto em redes sociais, como dos amigos e da família. Pode apresentar humor mais agressivo, violento e irritado. Mudanças na aparência e baixa autoestima costumam estar presentes, ganho ou perda de peso geralmente são notáveis.

   Mitos e verdades sobre o suicídio

     Erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, contribuindo para formação de um estigma em torno da doença mental e do comportamento suicida. O estigma faz com que as pessoas a se sintam envergonhadas, excluídas e discriminadas. O conhecimento pode contribuir para a desconstrução destas ideias. 

- O suicídio é uma decisão individual, já que um tem pleno direito e exercitar o seu live arbítrio: FALSO. Pessoas com pensamentos suicidas estão passando quase inevitavelmente por uma doença mental que altera, de forma radical, a sua percepção da realidade que na verdade, interfere em seu livre arbítrio. O tratamento eficaz da doença mental é o pilar mais importante para a prevenção do suicídio. Após o tratamento da doença mental, o desejo de se matar desaparece.

- Quando uma pessoa pensa em se suicidar terá risco de suicídio para o resto da vida: FALSO. O comportamento suicida pode ser eficazmente tratado e, após isso, a pessoa não estará mais em risco.

- As pessoas que ameaçam se matar não farão isso, querem apenas chamar atenção: FALSO. A maioria das pessoas que falam ou dão sinais sobre suas ideias de suicídio, estão em fase de ideação. Boa parte das pessoas expressam, em dias ou semanas anteriores, seu desejo de se matar.

- Se uma pessoa que se sentia deprimida e pensava em suicidar-se, e em um momento seguinte passa a se sentir melhor, significa que o problema acabou:  FALSO. Se alguém que pensava em se suicidar e, de repente, parece tranquilo(a), não significa que o problema já passou. Essas pessoas merecem acompanhamento com profissionais de saúde e atenção pelos familiares, amigos e entes queridos de maneira contínua.

- Quando um indivíduo mostra sinais de melhora ou sobrevive à uma tentativa de suicídio, está fora de perigo: FALSO. Um dos períodos mais perigosos é quando se está melhorando da crise em que houve a tentativa de suicídio, na sequência de uma tentativa. A semana que se segue à alta do hospital é um período durante o qual a pessoa está fragilizada e é um período que exige bastante atenção da sua rede de apoio.

- Não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco: FALSO. Falar sobre suicídio não aumenta o risco. Muito pelo contrário, falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.

- É proibido que a mídia aborde o tema suicídio: FALSO. A mídia tem obrigação social de tratar desse importante assunto de saúde e abordar esse tema de forma adequada. Isso não aumenta o risco de uma pessoa se matar, ao contrário, é fundamental dar informações à população sobre o problema, onde buscar ajuda e etc.

   

      Como ajudar alguém em risco?

     Primeiramente, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está próximo(a). Mas, principalmente, levando-a ao psiquiatra, que saberá manejar a situação e reverter a situação.

     Algumas dicas de como ajudar uma pessoa com ideação suicida são,

     em uma conversa:

  • encontre um momento apropriado e um lugar calmo para conversar;

  • ouça com atenção o que a pessoa está sentindo;

  • não julgue, não tenha preconceito;

  • valorize os pontos positivos da pessoa, tente reforçar sua autoestima e, acima de tudo, tenha solidariedade;

  • não dê conselhos como “você precisa sair mais de casa”, "você não tem porque ficar triste", “você precisa esquecer isso...”;

  • demonstre que você é alguém de confiança;

  • não faça comparações;

  • não mude de assunto, nem faça comentários do tipo: “se anima-me”, “vai ficar tudo bem”;

  • não ria ou faça piadas;

  • não hesite em questionar aberta e diretamente a ideia de suicídio: “Você pensa em morrer?” “Como você se sente agora?”

​​

     Ações que salvam vidas:

  • Encaminhe ao serviço médico e peça ajuda a um profissional de saúde.

  • Acompanhe ao psiquiatra. Os profissionais também fazem atendimento online em sites especializados.

  • Se achar que a pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha.

  • Fique atento aos sinais.

  • Não deixe a pessoa próxima de meios letais, isso reduz o risco imediato.

  • Acredite em ameaças: o impulso para o suicídio é transitório, por isso a ação imediata é tão importante.

   Será que você precisa de ajuda?

     O tratamento eficaz da doença mental é o pilar mais importante para a prevenção do suicídio. Sem tratamento, a doença mental pode ser incapacitante. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença mental é a segunda mais importante causa de incapacidade do mundo.

     A depressão é a doença mais ligada ao suicídio e QUALQUER PESSOA pode ter depressão. Assim como a diabetes e a hipertensão, a depressão é uma doença que tem tratamento. Se você está passando por isso, procure ajuda.

     Às vezes achamos que estamos sozinhos, mas sabe-se que, aproximadamente, 60 pessoas sejam intimamente afetadas em cada morte por suicídio. A sua vida é importante e a ideação suicida pode ir embora se for feito um tratamento adequado para as doenças mentais. 

     Com tratamento, é possível você voltar a ter vontade de viver, com qualidade de vida e esperança no futuro.​ Dê mais uma chance para você, cuide-se e peça ajuda se necessário, ações como essas podem salvar a sua vida e de quem você ama. O suicídio pode ser evitado!

     Para indicação de locais para atendimento gratuito em psiquiatria, consulte o site da campanha: www.setembroamarelo.com

 

     Se precisar, peça ajuda!

Ligue 188 gratuitamente 24 horas - CVV Centro de Valorização da Vida e Programa de prevenção do Suicídio e Apoio Emocional.

Por Giovana E. Ribeiro

Referências bibliográficas

Suicídio: Informando para Previnir; CFM Publicações - Manuais, Protocolos e Cartilhas

Cartilha de Prevenção ao Suicídio: Como ajudar? - Antônio Geraldo da Silva; Brenda Ali Gomes Leal dos Santos; Simone Paes dos Santos

Fiocruz alerta para aumento da taxa de suicídio entre criança e jovem - Agência Brasil, 2024.

QUEVEDO, J. ; IZQUIERDO, I. (Orgs.). Neurobiologia dos transtornos psiquiátricos. Porto Alegre: Artmed, 2020.

© 2024 por Isabela Lopes.

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