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TEMAS MÉDICOS

Transtorno por uso de álcool

On 27 Ago, 2024

     O álcool é a droga mais consumida do mundo. Situação grave, já que está mais do que comprovado que o consumo de bebida alcoólica é o principal envolvido em episódios de violência doméstica, acidentes de trânsito, suicídio e outros eventos graves. O transtorno é frequente. A maioria dos indivíduos desenvolve a condição antes dos 40 anos, e é mais comum no sexo masculino.

     O transtorno por uso de álcool costuma ser visto como uma condição intratável. Mas isso não é verdade. É verdade que muitos indivíduos que se apresentam para tratamento, têm história de muitos anos de problemas graves relacionados ao álcool.  As taxas são elevadas entre os sem-teto, mas estudos comprovam que a maioria de pessoas que sofrem com transtorno por abuso de álcool são indivíduos funcionais que continuam a viver com suas famílias e a trabalhar. A maioria dos indivíduos com a doença, são indivíduos que continuam levando sua vida normalmente e ainda sem grandes consequências causadas pelo uso de bebida. 

     Apesar da maioria das pessoas com transtorno por uso de álcool continuam trabalhando e morando com suas famílias, praticamente levando uma vida “normal”, não significa que essa não seja uma doença grave e que merece ser tratada, e de preferência, de forma precoce. Os riscos do transtorno são muito graves e sem tratamento adequado, o prognóstico e as consequências causadas tendem a ser muito ruins.
​     Para o diagnóstico, é necessário o desenvolvimento de um padrão problemático de uso de álcool, que leve a comprometimento ou sofrimento significativos, ocorrendo durante um período de, pelo menos, 12 meses.​ Os sinais e sintomas que podem estar presentes são:

  1. álcool consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido;

  2. desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de álcool;

  3. muito tempo gasto em atividades necessárias para obtenção de álcool, na utilização de álcool ou na recuperação de seus efeitos.

  4. fissura ou forte desejo de consumir álcool;

  5. uso recorrente de álcool, resultando no fracasso em desempenhar papeis importantes no trabalho, eventos sociais ou em casa;

  6. uso continuado de álcool, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos seus efeitos;

  7. importantes atividades sociais, profissionais ou recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de álcool;

  8. uso recorrente de álcool em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física;

  9. o uso de álcool é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pelo álcool;

  10. ter tolerância ao álcool;

  11. ter sintomas de abstinência ou tomar álcool para alívio de sintomas de abstinência.

     Assim que um padrão de uso repetitivo e intenso se desenvolve, os indivíduos com o transtorno tendem a dedicar grandes períodos de tempo para obter e consumir bebidas alcoólicas. A fissura por álcool é indicada por um desejo intenso de beber, o qual torna difícil pensar em outras coisas e costuma resultar no consumo da bebida. O desempenho escolar e profissional também pode sofrer tanto devido aos efeitos posteriores ao consumo como devido à intoxicação aguda em si. Pode haver negligência dos cuidados com os filhos ou dos afazeres domésticos e ausências relacionadas ao álcool são frequentes de ocorrer. Entretanto, indivíduos com transtorno por uso de álcool podem continuar a consumir a substância apesar do conhecimento de que o consumo contínuo representa problema significativo de ordem física, psicológica, social ou interpessoal.

     Há aumento na taxa de comportamento suicida e também de suicídio consumado entre indivíduos com o transtorno por uso de álcool.​ Problemas de conduta, depressão, ansiedade e insônia, frequentemente acompanham o consumo intenso, e às vezes, o antecedem. Outros mediadores potenciais de como os problemas com álcool se desenvolvem, incluem consumo intenso da substância pelos pares, expectativas positivas exageradas dos efeitos do álcool e formas inadequadas de enfrentamento de estresse.​ Observou-se também um aumento de 3 a 4 vezes no risco de desenvolvimento de transtorno por uso de álcool em pessoas que são filhos de indivíduos alcoolistas (mesmo quando essas crianças fossem adotadas ao nascer por pais adotivos sem o vício).

     Indivíduos do sexo masculino apresentam taxas mais elevadas de consumo de álcool do que o sexo feminino. Contudo, indivíduos do sexo feminino cujo consumo é intenso também podem ficar mais vulneráveis às consequências físicas, incluindo doença hepática.

     Muitos daqueles que abusam de álcool cronicamente apresentam certos traços de personalidade: sentimentos de isolamento, solidão, timidez, depressão, dependência e impulsividade. Transtornos bipolares, esquizofrenia e transtorno de personalidade antissocial e transtornos depressivos e ansiosos podem estar relacionados ao abuso de bebida.

     Intoxicação alcoólica repetida e grave também pode suprimir os mecanismos imunológicos e predispor os indivíduos a infecções e aumentar o risco de câncer.

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   Consequências Funcionais do Transtorno por Uso do Álcool

     Em geral, os pacientes com transtorno por uso de álcool experimentam consequências sociais graves. A intoxicação frequente é óbvia e destrutiva; ela interfere na capacidade de se socializar e trabalhar. Lesões físicas também são comuns. Frequentemente o transtorno resulta em relacionamentos amorosos frustrados e perda de empregos. O abuso de bebida alcoólica está associada a um aumento significativo nos riscos de acidentes, violência e suicídio. Estima-se que uma em cada cinco admissões em UTIs em hospitais urbanos esteja relacionada ao álcool, e que até 40% das pessoas da população geral sofrem um acidente relacionado a substância em algum momento de suas vidas. Estima-se que o consumo de álcool é responsável por até 55% dos acidentes de trânsito fatais.

     O transtorno grave (especialmente em indivíduos com transtorno de personalidade antissocial), está associado a atos criminosos, incluindo homicídio. O uso problemático e grave da substância também contribui para desinibição e sentimentos de tristeza e irritabilidade, os quais aumentam as tentativas e suicídio consumados.

     Programas de reabilitação, tratamento psicoterápicos e terapias, grupos de ajuda e medicamentos são as bases do tratamento para a melhora. E como já dito, quanto mais precoce iniciado o tratamento, maior a chance de melhora. A psicoterapia envolve técnicas que aumentam a motivação e ensinam os pacientes a evitar o consumo. Suporte social para a abstinência, incluindo o suporte da família e dos amigos, é muito importante.

     A maioria dos tratamentos é realizada de maneira ambulatorial e acompanhamento médico e/ou psicológico semanal. Programas de reabilitação com internação são reservados para pacientes com dependência de álcool grave e aqueles com significativos problemas médicos ou psiquiátricos comórbidos e com abuso de substâncias.

     Em grande parte dos casos, existem medicamentos que podem ser utilizados juntos com o tratamento psicoterápico. Deve-se utilizar terapia medicamentosa em combinação com psicoterapia e não como tratamento isolado.

     O dissulfiram, é o medicamento de escolha para evitar a recaída na dependência de álcool. Este interfere no metabolismo do acetaldeído (produto intermediário da metabolização da bebida). O paciente em uso dessa medicação, acumula de forma mais rápida e intensa o acetaldeído em sua corrente sanguínea. Assim, ao ingerir álcool, sentirá um desconforto intenso. Assim, poucos pacientes se arriscam a ingerir álcool enquanto estão tomando o dissulfiram.

     A naltrexona, é outro medicamento que diminui a taxa de recaída e o número de dias de consumo em muitos pacientes que utilizam álcool de forma crônica. A clonidina, também provou ser bem sucedida em reduzir os sintomas de abstinência alcóolica, essa também sendo eficaz para prevenir convulsões ou delirium por abstinência de álcool. O acamprosato, pode diminuir a taxa de recaída e o número de dias de consumo em pacientes que recaem. O nalmefeno e o topiramato estão em estudo quanto a sua capacidade de diminuir a fissura por álcool.

     O que eu quero dizer aqui é: existem tratamentos eficazes para o transtorno por uso de álcool.​ Se você se identificou com os sintomas, procure ajuda de um profissional da saúde. Quanto mais rápido iniciado o tratamento, melhor a chance de melhora. E não, o processo de melhora não será um processo fácil. Será um tratamento que requer tempo, paciência, muita vontade e inteligência. Mas, mesmo sendo difícil, o tratamento será de extrema importância para o resto da sua vida. Você pode mudar a sua história a partir de agora.

     E se você conhece alguém que você identifica os sintomas, esteja por perto, proponha diálogo aberto e sem julgamentos. Como já dito aqui antes, o apoio de familiares, amigos e pessoas queridas pode ser crucial para a melhora de pacientes com o transtorno.

Por Giovana E. Ribeiro

© 2024 por Isabela Lopes.

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